Uma breve reflexão sobre como esse projeto surgiu e atravessou os primeiros 7 anos de existência. Essa é a maior mudança que esse projeto já sofreu desde 2014. Mas quais os próximos passos?
Escrito por
Gláuber Sampaio
Publicado em
Acredite, já faz 7 anos que esse projeto existe. Quando eu olho pra trás e lembro de mim sentado no meu quarto, em frente ao computador, no calor de Fortaleza, esboçando os primeiros layouts e primeiras entrevistas, não imaginava que duraria tanto tempo. Nessa época, eu era só um garoto com quase 20 anos de idade começando a vida profissional-adulta: aquela que a gente precisa se desprender dos pais e tem que lidar com tudo só.
O ano era 2013, e essa era a época do boom do Behance no Brasil, com o início dos Reviews pelo mundo; dos raríssimos convites do Dribbble, e uma comunidade ávida por mostrar suas melhores habilidades com design “neumorfista”; dos blogs sobre webdesign, CSS 3 e todas as novas possibilidades; das galerias e premiações de sites, e até onde lembro, também foi um dos momentos onde o design digital como a gente conhece hoje estava começando a tomar forma.
Nesse período, comecei a conhecer os trabalhos de profissionais super talentosos e que estavam conquistando todos os espaços possíveis, através de entrevistas concedidas em revistas como Computer Arts, destaques em curadorias do Behance e alguns até com livros publicados. Eu também tinha uma mania de tietar os designers conhecidos dessa época, usando o chat do Gmail pra mandar mensagens do nada [risos]. Queria saber o que eles pensavam sobre design, como decidiam cada detalhe, e também pedia opiniões para coisas aleatórias completamente sem contexto. Eu só queria estar próximo.
Notando (a tempo) que essa não era a melhor estratégia, decidi criar um lugar “oficial” em que eu pudesse guiar uma conversa a partir da minha própria curiosidade. Escrevi algumas perguntas sobre o que eu queria saber, de um projeto em específico, e enviei para os primeiros da minha lista. Para minha sorte, obtive retorno em pouco tempo e alguns meses depois eu estava publicando as primeiras entrevistas (George, JP Teixeira). Essa abertura foi o suficiente para me dar coragem de perseguir outros nomes. Senti que era possível fazer isso por mim e por todos que começavam na profissão ao mesmo tempo que eu.
Desde o início, sempre quis evitar as perguntas superficiais. Falo isso entendendo que o meu conceito sobre superficialidade em entrevistas veio mudando com o passar dos anos, pois lendo as primeiras publicações, consigo enxergar minha versão ingênua em relação à profissão, à indústria e a como o mundo funciona. Uma versão onde a curiosidade sobre coisas simples parecia ser o suficiente. Mesmo assim, considerava ideal entregar algo além do básico. Eu queria mergulhar em cada frase e ter o máximo de texto possível – sempre que possível.
Agora é possível buscar artigos e entrevistas.
O tempo vai passando, nós vamos amadurecendo e o senso crítico acompanha a carruagem. Ali por volta de 2017, minha ideia sobre o Creative Doc começou a pulsar outras ondas. Eu queria entender e testar tudo o que era possível fazer através desse projeto. Recebia (e ainda recebo aqui e acolá) diversas mensagens de pessoas que descobriam o site, consumiam todas as entrevistas e se sentiam mega-inspiradas. Algumas entrevistas foram utilizadas como referência em projetos finais acadêmicos, traduzidas para o inglês e até utilizadas para obter vistos (por que não, né?).
Com isso, comecei a perceber que divulgar, promover e catalogar o trabalho de profissionais pelo mundo, mas principalmente dos brasileiros, era um caminho interessante e sólido em que o projeto poderia trilhar, que estava bem além das minhas motivações iniciais. Daí tentei de tudo.
Poderia gastar várias linhas descrevendo todos os testes que realizei nos últimos anos, na tentativa de encontrar a identidade perfeita que se encaixasse aqui. Passando por diversos formatos de publicação, curadoria, parcerias e até eventos presenciais. Mas todos foram testes válidos que buscaram encontrar algo que fosse o mais natural e tranquilo possível. Sendo a tranquilidade um fator super importante, já que esse é basicamente um projeto de um diretor só – não de “uma pessoa só”, já que ao longo do tempo pude contar com a ajuda de diversas pessoas em vários detalhes – e a manutenção é algo que requer muita dedicação.
©Creative Doc, 2021.
Bom, piscamos os olhos e estamos aqui, inaugurando uma nova década. Passei o ano de 2020 inteiro me questionando: qual o próximo passo para o Creative Doc? Apesar de ainda não ter uma resposta completamente formada (e talvez eu nunca tenha), entendo que o propósito desse projeto é aumentar as chances e formas de promover o que fazemos no Brasil, de forma séria e bem estruturada.
As entrevistas continuam sendo um ótimo meio para destacar perfis e ideias, mas sempre senti falta de um espaço para escrever sobre outras coisas em formato livre. Opinar sobre temas importantes da nossa indústria; publicar pedaços de artigos que se relacionam com outras áreas; falar sobre outras coisas que permeiam o universo da disciplina. Existe muito a ser explorado e não queria me limitar apenas ao formato de entrevistas.
E essa é provavelmente a maior mudança que já fiz no Creative Doc, desde 2014. Não só criar um novo visual, mas de só agora assumir um caminho de produção de conteúdo em formatos mais diversificados, observando que isso vai permitir que o projeto traga para o radar novos rostos, vozes e histórias que estão às margens da minha própria bolha profissional. De poder se tornar um espaço que busca falar sobre outros assuntos que não sejam o bê-a-bá já tão cansado, e que se repete a cada ano em veículos de maior alcance.
Primeiro artigo da série Referências, com Gabriel Namie. Série curada por Fabi Nakasone e Isa Marques. Leia agora.
Para que isso tudo seja possível, me rendi ao formato de revista. Não que eu tenha problema com esse formato, já que consumo conteúdo e me inspiro em vários projetos conhecidos da nossa área que são basicamente revistas online. Porém, sempre tive receio de que assumir essa característica me levaria a ter que produzir conteúdo intensamente, freneticamente e até perder qualidade por conta disso. Mas se eu não tentar – e levei 7 anos pra isso – eu nunca vou saber onde isso vai bater.
Se uma coisa que 2020 me ensinou foi abraçar o inesperado. Mesmo que todos os planos, cuidadosamente elaborados, sejam desfeitos por “motivos de força maior”, a adaptação rápida é uma atitude mais do que necessária. Acho que vai acontecer muito disso por aqui. Vou continuar testando, acertando e falhando, mas feliz por ter dado mais esse passo, que vai seguindo para ser um veículo que informa, dialoga e impulsiona os talentos brasileiros.
Por fim, quero agradecer a todos que vem acompanhando o projeto desde qualquer período. À todos que veem potencial e sempre mandam sugestões, alfinetadas, comentários e compartilham tudo o que já foi produzido. Esse engajamento é o que faz o projeto voar pra outros lugares. Fico feliz demais!
Deixo com vocês os novos artigos das séries A Escola Livre, Referências e Eufonia.