Me chamo Adam, sou diretor de design e atualmente vivo e trabalho em Londres. Há pouco mais de 4 anos fundei meu próprio estúdio, o Rotate °, com foco em e-commerce para marcas de luxo e lifestyle. Construí minha carreira de 9 anos trabalhando exclusivamente com design digital, em vários estúdios de Londres. Quando não estou trabalhando, estou tirando fotos ou programando minha próxima viagem.
Do ponto de vista do design, ter um nicho como esse permite que você foque e aprimore suas habilidades em uma área específica. De uma perspectiva de negócios, significa que você tem menos competição com os estúdios que estão trabalhando com um espectro mais amplo. Você se torna o estúdio ideal para aquele tipo de projeto.
Não acho que nós, Rotate°, decidimos trabalhar apenas com esses tipos de negócios de forma natural. Nossos dois primeiros projetos foram dessa categoria. Percebemos que os clientes desses setores tendem a ter uma resposta imediata ao design e sabem a importância da identidade da marca. Também lançamos outros projetos que foram bem sucedidos, mas acabamos voltando para o e-commerce com o tempo.
Tive a sorte de liderar projetos para algumas grandes marcas, como a Seedlip, a Loewe e a Chilly’s, todas muito cuidadosas com seus produtos e suas marcas – o que é um estímulo para nossa equipe. Mesmo quem não trabalha diretamente com design na Rotate°, respira design, trazem ótimas referências e por isso é importante que a gente tenha projetos em que toda a equipe possa trabalhar e trocar conhecimento.
Adam Robbins no escritório do Studio Rotate, em Londres.
Ótima pergunta – Quando eu comecei o negócio eu tinha apenas 26 anos e o co-fundador, Jim Tattersall, um desenvolvedor super talentoso, era alguns anos mais velho do que eu, e tinha tido um negócio antes. Apesar dos anos que passei na indústria até aquele ponto, e do conhecimento prévio de Jim, nenhum de nós sabia exatamente como começar e principalmente como administrar um estúdio naquela época – e ainda não sabemos exatamente, você nunca para de aprender.
No entanto, acho que minha maior lição foi aprender a lidar com todos os novos negócios e situações que exigiam criatividade, sabendo que nem eu, nem ninguém teria todas as respostas, então até certo ponto não existia certo ou errado. O que eu quero dizer é que eu aprendi a ter confiança para tomar decisões desde cedo, me jogando em todas as situações, independentemente da experiência, e não tendo medo do resultado.
Design de e-commerce para Interior, por Adam Robbins/Studio Rotate˚.
Mais uma vez, acho que isso se resume em ter confiança. Em primeiro lugar, você está constantemente tomando decisões importantes, portanto, precisa ter confiança em suas habilidades para tomar essas decisões. Não se trata necessariamente de tomar uma decisão imediata, e sim de tomar uma decisão coerente – prestar atenção em todos os detalhes, respeitar o processo, checar constantemente se a sua solução vai atender o público e assim vai.
Studio de Adam Robbins, em Londres.
Claro que é importante confiar em seu instinto e fazer o que parece o mais natural, mas eu prefiro pensar que essa é a mentalidade de um designer preguiçoso. É muito inconveniente se forçar a parar e pensar em detalhes que você acredita já ter uma solução, mas, quando isso acontece, muitas vezes você percebe que há uma solução melhor ou mais relevante.
Em segundo lugar, é sobre ter confiança na sua equipe. À medida que o tempo passa, vou aprendendo a deixar que outras pessoas ajudem mais no gerenciamento do projeto. Aprendi a ouvir mais as outras pessoas. Isso nos traz ótimos resultados e ajuda a motivar toda minha equipe.
E, finalmente, é sobre construir uma relação de confiança no cliente. Ter uma comunicação fluída, fazer o cliente se sentir incluso em todo o processo e ser transparente desde o primeiro dia de trabalho. Descobri que dedicar um tempo para explicar seu raciocínio de uma maneira clara (lembrando que o cliente provavelmente vê o mundo de forma totalmente diferente) ajuda a construir essa relação de confiança, mostra que você está apto a tomar as melhores decisões e tem uma base sólida para isso.
Uma vez ouvi uma entrevista com Tony Fadell, o co-fundador da Nest. Ele falava sobre como os melhores exemplos de design refletem em dois níveis: um emocional e um prático. Um produto, objeto ou serviço deve te fazer se sentir de uma certa maneira enquanto melhora um aspecto da sua vida, não importa o tamanho.
Esse racional, embora soe super óbvio, é algo que ficou comigo. Tento usar isso como um princípio que me guia quando faço design. Então, pra mim, design é basicamente o casamento de algo que tem impacto tanto emotivo quanto prático.
Adam Robbins
Eu diria a mim mesmo para lembrar que ser designer é apenas um trabalho. Qualquer um que trabalha ou já trabalhou na indústria de design se identifica com o fato de que as vezes, como designer, você se sente consumido por um projeto ou algum problema específico. Você fica acordado a noite inteira pensando em certos problemas, que ficam ali nas profundezas do seu cérebro por mais tempo do que deveriam. Isso nem é saudável e nem produtivo. A experiência me ensinou que é importante encontrar uma maneira clara de separar trabalho da vida normal. Hoje em dia, eu (quase) faço com que o estúdio seja o único lugar onde eu me torne obcecado por problemas de design. Isso é algo que eu gostaria de ter estabelecido mais cedo.
Seedlip são os criadores do “The World‘s First Distilled Non-alcoholic spirits”. A marca estava procurando por algo que fosse simples – um lugar onde consumidores curiosos pudessem aprender mais sobre seus produtos. Naquela época em que desenhamos o site, Seedlip não tinha as diretrizes de marca bem definidas, portanto a tarefa inicial foi criar uma interface inspirada nos elementos visuais das suas garrafas, que são muito bem desenhadas.
Da perspectiva de estratégia, eu vi uma oportunidade de fazer algo novo. Existe, às vezes, restrições rigorosas de entrega em torno da compra de bebidas alcóolicas online. Porém, com Seedlip sendo um produto livre de álcool, consegui direcionar a marca para que tivesse uma loja online, e assim pudesse se tornar uma das primeiras lojas de bebidas com contato direto com o consumidor (direct-to-consumer).
Já Chilly‘s foi um projeto completamente diferente. Quando eu comecei a trabalhar com a marca eles tinham um site bem antigo, e de alguma maneira a taxa de conversão era muito acima do padrão da indústria. Mesmo assim, queriam continuar aumentando essa taxa. Pra mim soou como o desafio perfeito de design – uma oportunidade para criar algo visualmente superior, que fizesse um impacto positivo no negócio.
De novo, depois de liderá-los durante uma fase de descoberta, o time e eu chegamos num conceito de sistema de design super modular, que permitia ao time da Chilly‘s experimentar de forma fácil diferentes hierarquias de conteúdo e funcionalidades, numa página base, da homepage à páginas de produto. Depois do lançamento, isso permitiria que nós, junto com a Chilly‘s pudéssemos fazer modificações no site progressivamente e encontrar o que surtiu mais efeito ou não com o consumidor (baseado em vendas), e assim nutrir e crescer a taxa de conversão. O conceito deu muito certo. Agora eles tem um site e-commerce que aceita qualquer moeda, qualquer linguagem com uma taxa de conversão que é acima do padrão da indústria.
Design de e-commerce para Seedlip, por Adam Robbins/Studio Rotate˚
Parte da fase de descoberta em todos os projetos que lidero, envolve a definição clara de objetivos do usuário, que são largamente influenciados pelas necessidades e expectativas do público-alvo e dos objetivos de negócio do cliente.
No caso de um site e-commerce, conversões (vendas) são normalmente o primeiro objetivo de usuário. No caso de HELM, o objetivo era obter mais pedidos de reserva, e já no caso do Elton John Aids Foundation seria obter doações.
Embora os dois sites tenham soluções de design muito separadas, lá no fundo está a clara sinalização e uma estrutura visual de site muito simples. Em qualquer site focado em conversão, seja e-commerce ou não, é crucial não haver atritos entre o usuário e os seus objetivos. Isso parece óbvio, mas o real desafio de design é ser rigoroso e decisivo no conteúdo, assim se evita esmagar usuários com distrações desnecessárias, e mantê-los focados em fazer apenas o que queriam fazer.
Armoury buscava um novo portfólio pra mostrar o catálogo de produções de filmes premiados que eles fazem. Enquanto eu os guiava pelo processo de descoberta, aprendi que o que eles queriam era uma solução que tanto fosse uma ferramenta de apresentação quanto um site que pudesse ser usado para ganhar novos clientes nos cenários de reuniões presenciais.
Então, eu procurei criar um site que fosse confortável tanto na palma da mão quanto numa tela de 60 polegadas. A solução final deu forma um índice imersivo e tipográfico, com vídeos no fundo. O site inteiro é muito parecido com um app de Smart TV que um site em si, criando uma sensação cinemática que põe todo o foco no trabalho deles.
Design de e-commerce para Chilly's, por Adam Robbins/Studio Rotate˚
Nunca fui um designer que se esforça pra ganhar prêmios. Eu imagino que deve ser ótimo receber atenção da comunidade de design mundo afora, mas eu sempre me senti muito realizado por apenas estar envolvido em diversos projetos e ver o impacto que eles fazem em marcas e negócios.
Eu sou da opinião que a qualidade do trabalho de qualquer designer deve ser visualmente evidente, sem precisar de validação de terceiros, especialmente se essa validação foi paga de alguma maneira.
Os últimos anos da minha carreira foram marcados por projetos de e-commerce. Pra mim, a realização as vezes vem dos projetos onde eu realmente acreditei na missão do cliente e o que eles estão oferecendo. Tirando isso, é sempre empolgante trabalhar em algo onde o cliente queira quebrar regras e tentar algo não-convencional. Qualquer briefing que tenham esses dois critérios, provavelmente se aproximam do que é um projeto dos sonhos pra mim.