Ângelo Maximiano

“Por causa da minha mãe, eu assimilo muito mais sua postura perante situações, o respeito e a humildade – ela é uma das pessoas mais humanas que conheço.”

Breve apresentação sobre você.

Meu nome é Angelo Maximiano, tenho 21 anos e moro em Belo Horizonte. Sou curioso e gosto de criar músicas no tempo livre. Já trabalhei em empresas de design e tecnologia, como Greco Design e BH-TEC. Atualmente trabalho na Sans Pere, uma empresa de Londres.

Angelo Maximiano

Trabalhar na Greco Design deve ser um sonho pra muita gente. Como isso aconteceu e qual seu maior aprendizado quando esteve lá?

Esse sonho de trabalhar na Greco é bem presente, principalmente em Belo Horizonte. É um dos estúdios de design mais conhecidos do Brasil e isso gera aquela atração generalizada por todos da área – foi essa atração que me levou a estabelecer uma meta de tentar algo com eles.

Aconteceu de um modo curioso. Juntei os projetos pessoais que mais me representavam em um portfólio e mandei junto de um e-mail, bem longo, dizendo o quanto eu gostaria de passar um período de experimentação no estúdio. Como é comum de acontecer, não obtive nenhuma resposta de imediato. Passado um mês de ansiedade, resolvi bater na porta deles e perguntei para a recepcionista se ela sabia algo do e-mail que eu havia enviado. Após uma conversa engraçada, ela disse que ia falar pessoalmente com o Gustavo Greco, quando ele estivesse por lá.

Poster criado para a equipe da Greco Design como agradecimento pela experiência.

Semanas se passaram e nada. Então tomei uma atitude bem maluca: peguei esse portfólio e o transformei em um poster tamanho A2. Criei de um modo que ele dobrado cabia no bolso e, a medida que fosse desdobrando, dava para ver imagens dos projetos e um trecho sobre mim. Tomei coragem e fui lá entregar pessoalmente ao Gustavo, que ficou surpreso e elogiou meus projetos e postura. Ele disse que o e-mail não tinha chegado até ele. Saí de lá bem feliz.

Alguns dias depois, eles me ligaram marcando uma conversa e acabei ganhando a oportunidade de passar um tempo com eles. Foi um processo interessante (e ambicioso) que me ajudou a amadurecer muito, pois aprendi a nunca deixar de lado meus princípios e metas. No meu último dia no estúdio entreguei um poster de agradecimento a todos os envolvidos que criei baseado na experiência daquele mês.

Ângelo trabalhando em seu escritório.

Como você descobriu que gostava de design? Existiu aquele momento que você pode dizer “foi aqui que eu decidi ser designer”?

Não tive um momento único em que descobri, foi mais uma progressão de intuito e descobertas que me guiaram para o design. A medida que aprofundei nessa jornada o efeito ficou exponencialmente gratificante e intoxicante, e imagino que sempre será.

Quando penso nesse início, duas coisas me vem em mente como fatores de peso. A primeira é minha família por sempre ter me dado liberdade e apoio nas minhas decisões, além de serem modelos de inspiração. Meu pai é engenheiro e dele eu claramente peguei o gosto por resolver problemas de modo criativo e racional, vendo suas soluções para desafios do dia a dia. Minha mãe, eu assimilo muito mais sua postura perante situações, o respeito e a humildade – ela é uma das pessoas mais humanas que conheço.

A segunda foi quando era criança, criei um blog para salvar imagens que me intrigaram de algum modo. Essas foram aos poucos refinando meu gosto, me moldando, e lá que eu descobri de modo mais claro o que me dava gás para seguir na área. Foi interessante me descobrir em uma atividade que era paralela à minha rotina de estudo, cresceu em mim de um modo inesperado. Mantenho esse blog ativo até hoje, como uma plataforma colaborativa, um arquivo de referência visual não só para mim mas também para as pessoas que o integram e o acompanham.

Arquivo pessoal de projetos.

Você diz que a sensibilidade e o humor são partes cruciais do seu processo de trabalho, e acredita que esses dois fatores guiam para uma boa solução de design. Porque? Explique como isso acontece na prática?

Tem muitos trabalhos fantásticos por aí, mas não é difícil perceber os projetos que faltam em personalidade. Existem muitos designers que “criam” como máquinas, copiam e colam o que veem como tendências, gerando na maioria das vezes soluções sem caráter. Isso não é uma crítica ao efêmero, ele têm seu espaço e é extremamente importante, é mais uma crítica a como ele acaba sendo utilizado de um modo vazio. Acredito que o bom designer abandona a superficialidade e incorpora traços humanos para expressar o objetivo de modo claro – aqui que entra a sensibilidade. Porque no fim das contas, o usuário não deve se esforçar para entender a mensagem, ela precisa ser natural.

Digo isso para demonstrar como é crucial a manipulação do sensorial no meu processo. No Design todos os elementos tem uma alma, por mais banais que eles possam aparentar, em conjunto eles representam a atmosfera do produto. Nós temos de dar mais atenção a isso.

Em objetos físicos esses conceitos de sensibilidade e do humor são mais palpáveis, cada material transparece uma textura diferente, um comportamento. O que eu busco nos meus trabalhos é incorporar essas sensações em um plano mais abstrato. Parece complicado, mas é bem simples: tudo tem um cerne emocional, seja ele apelativo ou discreto. O trabalho do designer é solucionar um problema, e nesse processo ele tem o poder de moldar essa atmosfera do modo mais favorável possível, dando voz ao produto. Essa atenção e sensibilidade pelo tom do produto é o que eu considero um dos pilares de uma solução sólida no design.

1. Escritório construído por Ângelo e seu pai Haroldo. 2. Poster criado para o Festival de Design Gráfico da Escócia, GDFS. Colaboração com Jacob Lindgren (US) e João Coutinho (PT).

Alguém (vivo ou morto) que não seja necessariamente da área de Design que te inspira. Quem e por que?

Vou citar dois, um designer e um artista.

No design, Dieter Rams. A filosofia dele me impacta não só na vida profissional, mas na pessoal também. A atemporalidade é uma arte sutil, que ele conseguiu materializar em várias de suas criações, e eu levo seus princípios de design como fundamentos em todos projetos.

No campo da arte, Philippe Petit. O modo como ele vive é contagiante, simplesmente fantástico. Suas realizações são de caráter puro e original, me fazem lembrar como a vida deve ser vivida: no limite, sem medo de se expressar e seguindo seus sonhos. Quem não o conhece, vale a pena pesquisar.

Peças de estudo do projeto: Chris Burden - Analysis

Não sei se é o seu caso, mas, quando se é estudante, o tempo geralmente é tomado por atividades acadêmicas e parece que quase não sobra espaço para o trabalho que gostaríamos de estar fazendo. Como você equilibra trabalho e a vida acadêmica?

Minha rotina realmente é corrida. Estive pensando nisso ultimamente, mas não sinto que eu preciso mudar meu ritmo. Tudo tem seu tempo nela e eu também gosto de me programar com antecedência – sigo bem a risca meus planos. Desde que entrei na faculdade tenho trabalhado manhãs e tardes, e dedicado as noites ao estudo. Tenho um espaço na minha rotina para experimentar coisas novas, acho importante balancear o rotineiro com o incomum, agrega matéria a ser trabalhada. Nos fins de semana eu procuro relaxar e tocar os projetos pessoais.

Placas da exposição internacional de posters em Tromsø, Norway.

Eu vejo a vida acadêmica como um suporte para meu crescimento, não algo essencial. Entrei recentemente na universidade e já penso em sair, trilhar um caminho menos tradicional. Penso em fazer cursos curtos relacionados a design em lugares com abordagens diferentes – acredito que seriam muito mais úteis do que uma formação comum. Na minha posição atual, valorizo muito mais as interações e novas experiências do que notas, muito mais o trabalho do que a faculdade.

Peça de estudo do projeto: AGA - A Galeria Aberta

Então qual seria, na sua opinião, a melhor forma para novas pessoas aprenderem sobre Design? Existe alguma coisa no modelo tradicional de universidades que não colaboram com o desenvolvimento de jovens designers, como você?

Para mim a melhor forma é pesquisando por conta própria, pois foi assim que descobri a disciplina. Existem muitas plataformas interessantes por aí, não necessariamente de Design, mas que possuem comunidades voltadas para a área e são grandes fontes de aprendizado e referências. Sinto que se o interesse em algo novo surge, temos de ir atrás e pesquisar, conhecimento nunca é demais.

Sobre a universidade, eu diria que para mim, a metodologia é muito antiquada. O Design acaba sendo abordado como uma derivação da publicidade, uma maquiagem, não como uma ferramenta de solução de problemas. Mas isso nas universidades tradicionais, porque tem novas escolas por aí tratando o design como deve ser tratado. Espero que com o tempo a área ganhe seu espaço e professores igualmente alinhados com essa visão, que fujam das abordagens atrasadas e sejam verdadeiros mentores.

Material criado para a primeira edição da Faísca - Mercado Gráfico, em Belo Horizonte.

Para um projeto sair como imaginamos, também é necessário muito esforço da nossa parte com o cliente, além do nosso esforço técnico. Como você lida quando um projeto não está indo na direção que imaginava?

Acredito que temos de nos esforçar para produzir trabalhos de qualidade, independente da postura do cliente. Quando um projeto começa a tomar caminhos diferentes do planejado eu paro para repensar a trajetória e o objetivo inicial, ver onde e porque essa pivotação ocorreu. Busco conversar bastante, entender o que o ele realmente precisa e daí colocar um argumento na mesa que possa reforçar o projeto e o colocar na trajetória ideal.

Isso que você falou é bem interessante. Ver onde e porque a pivotação aconteceu é importante, assim como conversar com o cliente sobre a retomada de rumos. Nesse caso, como você evitaria que seus argumentos não sejam vistos apenas como uma preocupação visual e sim com algo que faça sentido para o seu cliente?

Colocando o cliente na posição do usuário, através de conversas e protótipos, para que ele entenda facilmente como a proposta em questão afeta o projeto de modo positivo ou negativo. É essencial projetar colocando-se na pele do usuário e o cliente deve participar do processo sempre que possível – é importante criar uma sintonia dos envolvidos em torno das propostas de solução.

Poster criado para o Festival de Design Gráfico da Escócia, GDFS.

Você hoje mora em Belo Horizonte. E a cidade é repleta de muita gente boa trabalhando com design gráfico. Algo que percebo na maioria dos trabalhos executados por pessoas que moram na cidade é a liberdade de experimentação, o que leva a muitos projetos originais e o surgimento de estilos próprios. Como a cidade te influenciou no seu estilo?

Ao meu ver, Belo Horizonte é uma cidade em um momento peculiar, pois ela vem passando por uma explosão cultural nos últimos anos. Essa própria movimentação parece ter feito com que o design local expanda para satisfazer as necessidades da cidade, trazendo muitas soluções de qualidade pro espaço comum. Por ser uma cidade relativamente pequena, tem uma pegada maior de experimentação no design. Tive o prazer de conhecer uma galera que me mostrou como o design é poderoso, principalmente em um lugar em crescimento.

A cidade é para mim uma grande fonte de inspiração. Eu amo andar pelo centro, sinto como se uma “vida muda” estivesse esperando assimilação. Gosto de andar principalmente de madrugada, acho fantástico perceber como certas horas do dia podem alterar por completo a mecânica da cidade – parece outro mundo.

Peças de estudo do projeto: Lago Perfume

Que cidade do mundo você vê poder enxergar o mesmo? Gostaria de morar lá?

Ainda não viajei muito, mas das cidades que já estive, com certeza seria São Paulo. É uma cidade tão rica em tantos sentidos, das vezes que fui para lá fiquei maravilhado com a multiplicidade. Definitivamente viveria lá.

Quais seus objetivos para o futuro?

Em breve vou viajar para Londres, vivenciar o que ajudei a projetar e conhecer amigos que fiz no caminho. Fechar essa experiência com chave de ouro para começar novas ainda melhores. E mais coisas legais estão para acontecer no próximo ano.

No fim das contas: produzir trabalhos significativos, viver ao máximo as parcerias e ser feliz no processo – em poucas palavras, nunca deixar de aprender.

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