Meu nome é Felipe Elioenay. Designer Gráfico e Diretor de Arte vindo de São Paulo e atualmente trabalhando/passando um frio da porra em Montreal. Já fiz muita loucura na vida, me tornei pai aos 18 anos, trabalhei como músico por alguns anos, tive uma banda de metal por 12 anos, já trabalhei na Ucrânia com design e ando de skate até hoje desde 2000. Eu tento sempre aplicar meus conhecimentos autodidata em visuais mais modernos e com cores originais, mesmo não sabendo distinguir verde de vermelho. Sim, sou daltônico mas nunca liguei muito pra isso.
Fico feliz que vocês enxerguem meu trabalho dessa forma, porque esse é exatamente o meu objetivo. Com certeza design modernista. Eu preciso confessar que não vejo muita coisa de artes visuais, gosto mesmo é de design Sueco e Norueguês. Mas nunca deixo de ver o que está acontecendo na Polônia e em outros países daquele lado da europa, eles são de longe os mais ousados nesse mercado.
Não muda tanto do Brasil. E isso depende muito da cidade que você está, aqui em Montreal por exemplo o mercado é muito menor. Mas isso acredito que deixam as coisas mais artesanais e faz com que até a lojinha de suco do fulano tenha uma identidade visual super foda. Acho que aqui vale a pena abrir um pequeno estúdio e mantê-lo pequeno sem muita ambição. Quem sabe num futuro não tão distante né?
Desde que comecei no design eu queria fazer algo útil. Esse sempre foi o sonho. Não dá pra olhar o trabalho do Dieter Rams e não se sentir inspirado em criar alguma coisa que valha a pena. O plano era criar um produto mesmo, design industrial e tal, mas como acabei caindo no digital a vida me jogou esse limão na cara (daltonismo) e eu espremi num app. Sinto que esse é o meu primeiro trabalho de design mesmo.
Uma vez escrevi um artigo sobre como é minha vida sendo daltônico e designer, muitas situações constrangedoras e alguma engraçadas. Quando criei esse app eu pensei que ia ser interessante mostrar para as pessoas que daltônicos passam dificuldades em coisas simples do dia a dia. Como por exemplo, pegar a linha amarela do metrô. “Amarelo? Mas é verde pra mim!” Pois é, ninguém pensa nisso. Tudo que é sinalização tem cores envolvidas, é um inferno [risos]. Eu sou bastante daltônico, vejo praticamente nada de verde e metade dos vermelhos. Nossa visão é baseada no RGB, então só me sobrou o azul como cor mais lindona que tem.
O problema está exatamente aí: sem fins lucrativos. Logo no money. Sem grana tudo fica mais difícil, eu precisava esperar a brecha na agenda do meu parceiro para dar continuidade na produção. Foi sofrido [risos]. Outra coisa que você precisa lidar quando um projeto toma muito tempo, é manteres empolgado. Quase desisti, confesso. Mas fico feliz que tenha finalmente terminado e agora está disponível na Appstore.
A gente criou um algoritmo do zero pra isso. O app se orienta por um gradiente de cores e aplica a cor que seja mais próxima. A dificuldade está na luz do ambiente que acaba influenciando bastante na captura da cor. Na verdade o app acaba enxergando mais do que qualquer humano. E outra, para os mais “nerds” a gente disponibilizou todo o código no Github. Então se você quiser baixar e até melhorar o código, fique a vontade. Acreditamos que a cultura de patentes só atrasou a evolução da humanidade.
Em relação aos pictogramas, você conseguiu representar de forma prática as cores RGB, preto e branco. E esses pictogramas são combinados toda vez que a camera capta uma cor diferente. Como foi o processo de abstração e qual a importância dessa representação gráfica para pessoas com daltonismo?
Esse pictograma é genial. É tipo um alfabeto das cores mesmo. Mas não fomos nós que criamos, isso é um trabalho do Miguel Neiva. Um designer português que criou esse sistema em 2010 e eu quis integrá-lo ao meu aplicativo pois acredito que essa seja uma ótima solução para representar as cores para quem não as vê direito. Nós e o pessoal do ColorADD oficializamos uma parceria quando lançamos o app e esperamos estar contribuindo para um mundo com mais cores para todos.