Marco Vincit

Conheça o trabalho e história do designer multidisciplinar mineiro, através do seu projeto Vincit Beer. (2016)

Introdução

Conheci o trabalho do Marco um pouco antes dele lançar o seu projeto da cerveja, através da conhecida vitrine, – que me arrisco a dizer que poucos profissionais usam de forma digna – o Dribbble. O que Marco mostra lá encanta pela consistência visual, uso das formas geométricas e cores vibrantes, além do uso consciente de bons tipos.

O projeto Vincit Beer me chamou atenção pela leveza e simplicidade aplicada tanto no visual do rótulo da cerveja e na fotografia, quanto nas microinterações e perpectivas tridimensionais do rótulo no site. Acredito que o site é espelho do esmero empregado no trabalho gráfico, mesmo não tendo tido contato com a garrafa ou provado da cerveja artesanal, o que me permitiria ter um olhar completo sobre o projeto.

Em pouco tempo, o belo trabalho executado por Marco alcança o mundo com publicações em portais conhecidos, como 99U, AIGA Eye on Design e The Dieline, o que deve ter lhe rendido bons contatos, diversas propostas para trabalhar em bons lugares e ser freelancer de projetos que não se paga em reais. Mas tudo, certamente, fruto do talento e de muito esforço em fazer e apresentar o melhor que ele pode.e as pessoas gostam de você e querem você por perto.

Projeto Vincit Beer por Marco Vincit / Foto: Lara Dias

Faça uma breve apresentação sobre você.

Olá, sou Marco Vincit, nascido e criado em Belo Horizonte, mas agora estou no Rio de Janeiro. Já trabalhei em empresas de tecnologia, design e agência de publicidade digital. Hoje estou trabalhando na Work & Co.

Marco Vincit

O que você considera ser sua maior conquista hoje? E de todos os trabalhos que você fez, qual tem mais orgulho?

Minha maior conquista é receber feedback positivo sobre o meu trabalho de pessoas que eu nunca imaginava conhecer. Isso é realmente legal. Dos trabalhos que eu fiz ainda não tenho tanto orgulho assim. Gosto de saber que eu nunca posso parar. E o que eu já fiz, passou e não é mais tão bom, assim como não me dá tanto orgulho quanto coisas que eu sei que ainda posso fazer.

Antes de trabalhar com web, já trabalhou em outras áreas da indústria?

Desde quando me vi na frente de um computador pela primeira vez, gostei muito de como as coisas funcionavam. Não digo fisicamente, mas me refiro às coisas que eu via na tela: as linhas, interfaces das janelas, mas não sabia direito como tudo aquilo acontecia. Passava horas em frente Paint Brush e achava sempre muito incrível.

Depois de muitos anos eu pensei que precisava ter um site da banda de música CMBSS em Belo Horizonte, onde toquei trompete por 7 anos. Daí surgiu um enorme interesse em saber como fazer um site. Logo depois outras oportunidades foram surgindo, e então resolvi seguir. Mas eu sempre gostei de como organizar as coisas e pensar no visual. E desde sempre também desenvolvendo códigos.

Projeto Vincit Beer por Marco Vincit / Foto: Lara Dias

Estudei Design Gráfico no Centro Universitário de Belo Horizonte, e sempre amei projetos impressos, principalmente editoriais e embalagens. Desde a primeira empresa trabalhei como Digital Designer, e sempre que surgia a oportunidade eu fazia algum projeto de print – tanto no escritório quanto como sendo freelancer. Mas sendo mais objetivo na resposta, já trabalhei em projetos culturais como fotógrafo e já fui professor de teoria musical para crianças, além de me apresentar como músico profissionalmente.

Projeto Vincit Beer por Marco Vincit / Foto: Lara Dias

Qual a sua forma de buscar inspiração?

Não sei. Eu gosto muito de observar as coisas que estão sendo feitas no Digital, mas as coisas que me influenciam mais estão nas ruas, quando vejo em um local algum projeto de sinalização legal, quando vou a algum museu ou ver muito trabalho de impressos. Me referencio muito em designers que curtem muitos grids e estudos de proporção.

Num artigo para o 99U.com, você diz “eu acredito que quanto menos elementos nós usamos, maior o impacto”. Como esse pensamento tem sido refletido no seu trabalho?

Na verdade eu sempre fiz trabalhos com poucos elementos. Neste caso, estava falando do rótulo, onde na maioria das vezes, temos rótulos comemorativos, cheios de letterings enormes ornamentados, muito rebuscados e acabei indo para um lado um pouco inverso a isso. Geralmente os clientes esperam coisas muito carregadas, com imagens, ilutrações etc. E eu sempre gosto da casa limpa e organizada.

Projeto Vincit Beer por Marco Vincit / Foto: Lara Dias

Qual foi a ideia principal por trás do projeto? Porque criar uma cerveja com seu nome?

Eu e Marcos Oliveira, meu amigo e xará, trabalhávamos para uma marca de cerveja artesanal e acabou surgindo uma cultura entre nós de mostrar um para o outro rótulos que nos inspiravam. Quando vemos algo interessante no supermercado, trocamos ideias e criticamos. Daí acabei gostando de experimentar novas cervejas artesanais neste mesmo ano.

Na verdade, eu queria fazer alguma lembrança do ano que estava acabando. Fiz projetos muito legais e conheci muita gente que eu não imaginava conhecer. Queria uma forma de presentear meus parceiros e amigos com algo personalizado, que marcasse este ano. Já queria ter feito algo nos anos anteriores, mas não rolou.

Quando pedi ajuda ao Marcos, ele sugeriu essa ideia de presentear com uma cerveja artesanal personalizada e eu achei ótimo. O projeto é simplesmente uma forma que eu tive de fazer algo novo e presentear as pessoas que foram marcantes para mim, profissionalmente falando.

Porque amarelo?

A relação do amarelo sempre tive desde que conheci os nomes das cores. Por ser um projeto meu, que representa o meu trabalho, nada mais justo que a minha cor preferida, porém com significados: de um morrer do ano e o renascer do outro. Mas de uma forma invertida, contrária de como sol nasce.

Estudos de rótulos. Foto: Marco Vincit (arquivo pessoal)

Já pensou em trabalhar com packaging design?

Na verdade eu sempre pensei em trabalhar com tudo, e ainda penso. Eu amo o Digital, é minha primeira paixão. Mas nada me impede de me aventurar no desenvolvimento de embalagens, livros e quem sabe, projetar uma cadeira: um sonho. As possibilidades são inúmeras mesmo quando se entende pouco sobre Design.

Acredito que todo ser humano é múltiplo, e por isso temos de quebrar esse modelo imposto de que temos que ser alguém que faz apenas uma coisa e pronto. Acredito que cada pessoa tem inúmeras habilidades que muitas vezes não são exploradas por terem de seguir apenas aquela função “designada”.

Detalhes do rótulo e material. Foto: Marco Vincit (arquivo pessoal)

Como se deu o processo de geração do visual final do rótulo e da composição da embalagem?

Então, na verdade eu queria conceitualmente fazer um tributo ao poeta romano Publius Vergilius Maro. O conteúdo todo foi baseado em duas de suas frases mais famosas: “Omnia Vincit Amor” e “Labor Improbus Omnia Vincit”, com relação ao trabalho e ao amor sempre vencer e também ao novo ano que estava por começar.

Busquei elementos que representassem isso, primeiro nos textos que é a melhor parte de tudo – e onde tive a enorme ajuda do Marcos Oliveira – e depois mostrar que era algo especial, de forma mínima, com um detalhe escrito em dourado abaixo do nome. E por fim, a representação minimalista do que seria o nascer do sol de forma invertida.

Detalhes da impressão do rótulo. Foto: Marco Vincit (arquivo pessoal)

Na parte superior, quis representar uma das coisas que gosto muito e que tem muito a dizer sobre o Design: a vigésima-primeira letra do alfabeto grego Phi, que representa o número áureo 1,618.

Utilizei um grid modular muito simples para fechar a composição, que foi o mesmo utilizado no site. O grid é baseado num dos estudos mais famosos do tipógrafo alemão Jan Tschichold: numa página com proporção 2:3, fazer uma divisão de 9×9. Porém, no meu caso as dimensões são diferentes, então é basicamente um grid de 18×9 que tem números próximos da proporção Áurea, mas que não é exato.

No site, você fez um efeito tridimensional da garrafa que deu vida ao projeto. Como você fez isso? Qual o nível de dificuldade? Já sabia resolver isso ou teve que aprender do zero?

Eu já havia visto várias maneiras de se fazer algo do tipo, mas acabei indo para o lado mais fácil e prático. Criei uma sequência de frames que roda como background, sendo praticamente tudo em CSS.

Os únicos momentos em que uso algo além de CSS e HTML básico é para remover ou inserir classes através dos cliques com Javascript. Embora a execução final pareça ter nível básico, a ideia de criar frames da garrafa no After Effects e depois usar o básico de CSS para disparar foi algo que me custou um tempo considerável.

Imagem do sprite utilizado no site / Marco Vincit

Depois de lançado o projeto, você recebeu exposição das mais variadas formas. Como você enxerga seu trabalho sendo exposto como referência para outros profissionais do mundo, e porque acha que isso aconteceu?

Eu não sei porque isso aconteceu. Eu não havia divulgado em lugar nenhum, só depois de algum tempo que eu resolvi postar no meu Behance, com a intenção de divulgar uma parceria com uma amiga, a fotógrafa sensacional Lara Dias. Daí depois de um tempo resolvi enviar para o Packaging of the World e The Dieline, mas quando fui enviar, acabei descobrindo que a curadoria dos dois sites já haviam publicado espontaneamente. Logo no dia seguinte, apareceu no AIGA Eye On Design e daí vários outros blogs, fanpages e perfis no Instagram começaram a compartilhar. Foi uma surpresa, isso me deu um super gás para fazer coisas novas e nunca deixar de fazer projetos pessoais.

Não sei se servir de referencia para outros estudantes e profissionais é tão bom, não acho a qualidade do meu trabalho tão boa para servir de referencia. Quanto a ser julgado, na verdade é a parte melhor de tudo, receber criticas é muito bom, é melhor que os elogios, isso me faz pensar em como tentar melhorar e propor coisa nova. Acho que isso aconteceu porque busquei uma maneira diferente de representar um rótulo de cerveja.

Projeto Vincit Beer por Marco Vincit / Foto: Lara Dias

Qual a melhor parte disso tudo? E quais resultados você obteve com isso?

A melhor parte é a motivação pra fazer projetos pessoais e estudar ainda mais. E outra coisa muito positiva é conhecer gente nova, trocar ideias e falar sobre. Tive resultados profissionais bem legais, vários escritórios tiveram interesse pelo meu trabalho, assim como surgiram diversos freelas de projetos ao redor do mundo.

Onde se imagina estar daqui a 10 anos?

Eu gosto de pensar sempre que daqui a 1 ano vou estar ainda melhor. Me divirto muito trabalhando, gosto de aprender sempre sobre Design. Embora daqui a 10 anos seja tempo demais, acho que vou estar seguindo meu próprio caminho. Quem sabe liderando um time macro de Design para criar soluções boas para ajudar o mundo.

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