Porto Rocha

Conheça Porto Rocha, um estúdio de design em Nova York, formado pelos brasileiros Leo Porto e Felipe Rocha, e fundadores do Bonde NYC.

“Porto Rocha é um estúdio de design com uma estrutura pequena, mas com o desejo de trabalhar com projetos, marcas e pessoas de muito impacto. A gente acredita que bom design deve ser acessível a todos.”

Para quem não ainda conhece vocês dois, quem é Leo Porto e Felipe Rocha

FELIPE Sou um cara nascido e criado na periferia da Zona Leste de São Paulo, que desde criança gostava muito de se expressar artisticamente e encontrou no design uma possibilidade de fazer isso. Tive a oportunidade de trabalhar com design em ambientes muito diversos, e hoje em dia moro em Nova York e sou fundador e diretor criativo do meu próprio estúdio: Porto Rocha.

LEO Eu nasci no Rio, me mudei pra São Paulo aos 9 anos, e aos 18 fui pra NY estudar design na School of Visual Arts. Desde então, passei por alguns estúdios de design aqui em NY, como Pentagram, Chermayeff & Geismar & Haviv, e mais recentemente a Collins, onde fiquei por mais de 4 anos. Hoje em dia eu toco o Porto Rocha, estúdio que fundei com o Felipe.

Leo Porto e Felipe Rocha.

Qual a trajetória que guiou vocês a trabalharem juntos, fora do Brasil, após passarem por experiências profissionais distintas em lugares prestigiados?

FELIPE Eu conheci o Leo assim que me mudei pra Nova York, em 2015. Ficamos bem amigos e depois de um tempo começamos a namorar. Em 2016 eu fui chamado para fazer um projeto como freelancer e convidei o Leo para colaborar. Essa primeira experiência foi bem positiva e a partir dali começamos a trabalhar juntos em vários projetos, enquanto ainda tínhamos nossos respectivos empregos. Nesse meio tempo também organizamos o Bonde, que foi um grande desafio. Produzir uma conferência de Design em Nova York é bem mais complicado do que a gente poderia imaginar.

Essa dinâmica de trabalho funcionou bem, mas de um tempo pra cá a gente começou a ter uma demanda de projetos mais complexos, que precisam de um comprometimento integral pra gente conseguir aceitá-los. E apesar de estarmos envolvidos em projetos interessantes e com bastante visibilidade nos nossos outros empregos, a vontade de fazer as coisas do nosso jeito e o desafio de empreender falaram mais alto.

Electric Sky (2018) / Porto Rocha

Qual a proposta da Porto Rocha?

F&L O mercado mudou muito nos últimos anos. Por um lado o Design passou a ser valorizado como uma ferramenta estratégica para a maioria dos negócios. Por outro, o nosso planeta tem recursos naturais a cada instante mais escassos e empresas estão cada vez mais céticas na hora de gastar dinheiro. Além disso, o Design ficou mais democrático e acessível. Se antes meia dúzia de consultorias gigantes de Design eram responsáveis pela maioria dos projetos globais produzidos durante o ano, hoje em dia é mais fácil você ser respeitado e valorizado por clientes grandes, mesmo sem a estrutura e reputação de uma grande agência.

Esse contexto foi o que nos deixou mais confiantes na hora de decidir abrir o estúdio. A gente acredita que conseguimos entregar trabalhos de escala global com um processo mais eficiente, focado e enxuto. Esse modelo nos dá mais liberdade para investir a maioria dos nossos recursos no trabalho em si, sem muita burocracia. Porto Rocha é um estúdio de design com uma estrutura pequena, mas com o desejo de trabalhar com projetos, marcas e pessoas de muito impacto. A gente acredita que bom design deve ser acessível a todos.

Felipe Rocha

Felipe, para você que já foi co-fundador do estúdio Arnold, um estúdio de design gráfico no centro de São Paulo, por quase 4 anos, qual a sensação de ser autônomo outra vez, mas fora do Brasil?

FELIPE A principal diferença não é o fato de eu estar no Brasil ou em New York, mas o meu comprometimento com o estúdio em si. Na época do Arnold, apesar de ser um dos fundadores, eu nunca trabalhei 100% no negócio, sempre tive um emprego de tempo integral e tocava os projetos do estúdio nas horas vagas.

Durante esses anos, além de ainda não ter o mínimo de estabilidade financeira que eu achava necessário para empreender, eu sentia que ainda precisava ter outras experiências profissionais e aprender com pessoas que eu admirava, para então focar toda a energia na minha própria empresa. Agora estou confiante para afirmar que esse momento chegou.

De uns anos pra cá, não tem sido fácil para brasileiros que queiram tentar a vida nos Estados Unidos, trabalhando em grandes empresas de tecnologia e consultoria. Estabelecer um negócio deve ser outro nível que nem passa pela cabeça. Qual a maior dificuldade de estabelecer um negócio, feito por imigrantes em Nova York, e o que é necessário para realizar isso?

FELIPE Apesar da curta experiência em ter o nosso próprio negócio nos EUA, já sentimos algumas coisas: por um lado tem muito menos burocracia aqui, existe um estímulo do país para empreender, abrimos a nossa empresa através de um site e a papelada foi aprovada em menos de 24 horas, por exemplo. Por outro lado, temos algumas dificuldades a mais que não teríamos se abríssemos o estúdio no Brasil.

Electric Sky (2018) e Flygrl/Melissa (2016)

FELIPE O processo do visto de trabalho, diferenças culturais, e a constante necessidade de ter que nos provar profissionalmente por sermos imigrantes nos EUA. Além disso, os custos são mais altos, a competição é maior, e o trabalho aqui, por mais incrível que seja, não é o suficiente. Todo mundo precisa ter um lado showman. Mas é justamente a vontade de mostrar que SIM, é possível ser imigrante em NY, montar o seu próprio negócio, e competir de igual pra igual com o resto do mundo, que levou a gente a investir no nosso estúdio.

Vocês também fundaram o primeiro evento dedicado ao design brasileiro em Nova York, o famoso Bonde. Vocês imaginavam a repercussão que isso daria?

F&L A princípio o Bonde era pra ser um happy hour entre designers brasileiros que moram em NY. A gente tinha a suspeita que existiam muitos brasileiros trabalhando com design aqui, mas sentíamos que faltava algum motivo para conectá-los. Esse foi um dos fatores que nos levaram a organizar a conferência.

Bonde

Acabamos encontrando outras pessoas e empresas que acreditaram na nossa ideia, como a COLLINS e a FLAGCX e no decorrer dos meses de planejamento e produção, o evento foi tomando uma proporção muito maior. Por um lado a gente não imaginava a repercussão do evento, por outro, o nosso time trabalhou e suou muito para fazer o Bonde acontecer. A repercussão positiva não aconteceu do dia pra noite, é fruto desse processo de muita dedicação.

Existe planos para um novo evento?

LEO Sim, vontade não falta. Já gostaríamos de ter feito outro evento, mas nesses últimos dois anos o nosso foco foi tocar os nossos projetos como freelancers e nos preparar para abrir o estúdio. Agora que estamos focados 100% no Porto Rocha, acreditamos que vai ser mais fácil encontrar tempo para investir no Bonde também. E além dos EUA, queremos muito produzir um evento no Brasil.

Site de inscrição do Bonde.nyc

“Por um lado a gente não imaginava a repercussão do evento, por outro, o nosso time trabalhou e suou muito para fazer o Bonde acontecer. A repercussão positiva não aconteceu do dia pra noite, é fruto desse processo de muita dedicação.”

Leo Porto

Para vocês, o que define o sucesso de um projeto de design?

LEO Para nós, um projeto bem sucedido é aquele que consegue através do design, melhorar a experiência de consumo daquilo que a gente se propôs a criar, seja um produto, um livro, um evento, etc. A gente vê o design cada vez menos como uma ferramenta que simplesmente comunica valor, e cada vez mais como uma ferramenta que adiciona valor à experiência. Como mencionamos antes, o mercado tem mudado rapidamente nos últimos anos. O Design passou a ser valorizado como um investimento estratégico para negócios que lidam com desafios atuais. Diferente do que muitas agências tradicionais ainda acreditam, design não é mais uma última etapa de embelezamento estético mas sim uma etapa crucial e estratégica para o desenvolvimento de uma marca, produto ou experiência.

FELIPE Além disso, a gente acredita que combinação entre alta qualidade de design e desafios de grande escala é muito poderosa. Nossa vontade é de fazer design acessível para o mundo real, e impactar positivamente, através do nosso trabalho, o maior número de pessoas possível.

Emotional Landscapes. Uma coleção de fotografias de plantas, jardins e designs do arquiteto Roberto Burle Marx.

Se vocês estivessem de frente para jovens designers brasileiros nesse momento, qual conselho sobre crescimento profissional vocês dariam e porque?

FELIPE Acho difícil essa posição de “conselheiro” porque tudo é muito relativo, depende muito do contexto de cada jovem e o que essa pessoa considera ser “crescimento profissional” para si. Dito isso, se tivesse que dar um conselho, do ponto de vista de alguém com experiências profissionais no Brasil e fora, minha saúde mental melhorou bastante depois que eu comecei a não me comparar com designers de outros países. Tudo bem que veio com a idade também, mas por um bom tempo eu queria fazer design minimalista como os suíços, apresentar os meus projetos como os americanos, ser “disruptivo” como os holandeses, organizado como os ingleses... até eu entender que por mais que eu tentasse, eu nunca ia ser essa pessoa, e que na verdade tem algo especial em ser brasileiro, e que esse fato, mesmo inconscientemente, influencia o meu trabalho de um jeito positivo.

Yaga (2018)

LEO Um dos meus maiores aprendizados depois que eu me mudei pra NY, e talvez um dos maiores fatores que nos incentivou a começar o Bonde, foi ter conseguido quebrar o meu complexo de inferioridade como brasileiro. E de perceber que a nossa idolatração (completamente infundada) do que é de fora nos impede de valorizar o nosso próprio trabalho. O meu conselho é não idolatrar ninguém. Porque essa mentalidade cria uma falsa percepção de realidade, onde os seus objetivos parecem muito distantes ou até mesmo inalcançáveis, quando na verdade, eles podem estar bem mais perto do que você imagina.

E um conselho sobre a vida em geral, que vocês gostariam de ter ouvido mais cedo?

FELIPE Difícil dar um conselho que não seja muito genérico, mas vamos lá. Depois de muita correria e frustração, eu cheguei a conclusão que não vale a pena correr pra pegar o metrô/ônibus que está prestes a sair. Se não der tempo, é porque não era pra você entrar.

LEO A noção de urgência é relativa. Seja crítico sobre as suas responsabilidades e não sacrifique o seu bem estar por um problema que talvez nem seja o seu.

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