Rodrigo Grundig

Conheça mais sobre a história de um dos fundadores da Warren, uma empresa de investimentos no Brasil.

Queria que você se apresentasse e começasse contando um pouco sobre como sua infância e adolescência te guiaram para o que faz hoje.

Olá, me chamo Rodrigo Grundig, tenho 30 anos, sou designer e co-fundador do Warren. Trabalho com design há 8 anos.

Quando pequeno, eu era muito ligado à área criativa e, conforme fui crescendo, procurava formas de colocar essa criatividade para fora. Comecei, então, a querer entender como as coisas funcionavam para poder fazê-las “funcionarem” do jeito que eu quisesse. Sabe aquela história de desmontar e montar as coisas que temos quando criança para entender como funcionam? Eu era – e sou – assim até hoje. Sempre gostei de ter essa liberdade. Isso foi desde criar mapas de jogos de computador, tocar diferentes instrumentos, a aprender front-end e conseguir que um site ficasse exatamente como eu havia imaginado.

Esse “entender como as coisas funcionam” para mim são como ferramentas. É querer desenhar um site e alcançar o mesmo resultado seja no Sketch, Photoshop ou Illustrator. A forma de fazer pode ser diferente, mas o resultado que você quer alcançar é um só. É muito importante para mim não ter um entrave técnico. Tenho uma ideia? Já quero poder colocar a mão na massa sem depender de alguém.

Rodrigo Grundig, sócio-fundador do Warren. Imagem: arquivo pessoal.

Você passou por uma empresa de investimentos e uma agência antes de fundar a própria empresa. Essa foi uma estratégia pessoal ou apenas acontecimentos?

Eu tive muita sorte. Foram acontecimentos que se tornaram extremamente ricos para o meu momento atual com o Warren, mas nunca foram uma estratégia planejada.

Eu trabalhei por quase quatro anos numa corretora, a XP Investimentos, fazendo muito trabalho complicado, alinhados a um assunto que eu mal conhecia: investimentos. Isso me deu uma bagagem enorme com relação à preocupação com diversos aspectos que lido com frequência hoje, que são a segurança da informação, regulamentações e burocracia, para citar alguns.

Depois desse período, fui parar na Huge, um lugar que abriu minha cabeça para um mundo de possibilidades na qual eu nunca sonhei fazer parte. Fazia projetos globais que eram usados por milhões de pessoas, para empresas líderes em suas indústrias, como Google, Coca-Cola e Motorola, por exemplo, além de desenhar conceitos que me forçavam a sair do ordinário. O pensamento era “e se isso aqui fosse pra ser o melhor da categoria no mundo? Como deveria ser?”. Não havia limites, e o mais incrível é que eles podiam se tornar realidade.

Em pé: André Gusmão (esquerda) e Marcelo Maisonnave (direita). Sentados: Tito Gusmão (esquerda) e Rodrigo Grundig (direita). Imagem: Warren

Como você vê o papel das pessoas que trabalharam com você nessa trajetória? E o que trabalhar em equipes dentro de agência te ensinou?

As pessoas que trabalharam e trabalham comigo me fizeram aprender muito mais sobre o meu trabalho e sobre mim mesmo. Hoje vejo com muito mais clareza onde preciso melhorar. Em contrapartida, sou muito mais confiante naquilo que já tenho facilidade e uma certa experiência. Trabalhar em equipes te dá a diversidade que a sua cabeça sozinha não oferece. Mostra opções e argumentos onde antes não existia. Essa variedade de pontos de vista e argumentos é muito importante, principalmente quando você está desenvolvendo um produto do zero, como foi o caso do Warren.

Eu diria que tive a sorte e o privilégio de vivenciar os dois extremos de um produto digital, onde ambas empresas foram uma escola, nas suas respectivas maneiras, e me ajudaram a ser o designer que sou hoje.

Escritório do Warren, em Porto Alegre. Imagem: Warren

Alguém que você pode ter considerado mentor desde essa época? Quais eram os conselhos mais frequentes?

Sou muito grato pelo oportunidade de ter trabalhado com profissionais que aprendi muito. Mas se tivesse que citar uma pessoa que considero um mentor durante essa época, essa pessoa seria o Pedro Borges (ex-Huge). Ele é um cara fora da curva. Trabalhamos juntos do começo ao fim num projeto para o Google e ele tem uma visão de produto fora do comum, além de ser uma pessoa sensacional. É um cara que tenho muita vontade de trabalhar junto novamente, no futuro.

Ele me mostrou a importância de se fazer inúmeras explorações para chegarmos na solução ideal de um problema, a estressar pontos chave de um produto, a ter uma visão macro, a criar uma experiência consistente e também se organizar para apresentar uma ideia. Esse período que trabalhamos juntos, eu diria que foi um dos mais marcantes no desenvolvimento da minha carreira. Pedro é o cara.

Tito Gusmão, sócio-fundador do Warren, apresentando o “Papo de Grana”, meetup recorrente que a empresa realiza para falar sobre investimentos. Imagem: Warren

O que você aprendeu trabalhando em agência que considera muito importante, e adota hoje na sua empresa?

Aprendi a valorizar uma boa cultura, a ter uma atmosfera agradável no ambiente de trabalho e a importância de estar rodeado de pessoas que querem crescer, que se puxam, que são inquietas e que gostam de questionar aquilo que não concordam. Pessoas que se preocupam em fazer o melhor trabalho de suas vidas. É um círculo virtuoso inspirador que me faz sair de casa feliz da vida para ir trabalhar todos os dias.

E o que aprendeu a não fazer?

A nunca deixar a intuição e o instinto de lado. Elas são a sua experiência dando o ar da graça. Se tem alguma coisa em um projeto que está te incomodando, você deve levantar a voz e discutir seus pontos até que as coisas façam sentido, ou que as outras pessoas ao menos escutem o que você tem a dizer.

Dashboard principal do oiwarren.com. Imagem: Warren

Hoje não é tão difícil ver designers tomando posições como fundadores de suas ideias e cuidando de empresas. Qual foi o seu caminho e como aconteceu esse processo?

Foi um processo muito natural, mas que nunca achei que fosse acontecer na minha vida, de fato.

Enquanto eu ainda trabalhava na corretora, odiava o fato de que, mesmo estando lá por anos, ainda achava investimentos muito confuso e complexo. Nem eu que vivenciava aquilo no dia a dia entendia direito. É um conhecimento quase que inalcançável para quem não é da área.

Durante determinado momento, estava fazendo uma pós-graduação na PUC-Rio em Ergodesign de Interfaces: Usabilidade e Arquitetura de Informação, curso que me ajudou a organizar os pensamentos sobre o mundo digital e também onde fiz o meu projeto final, que era um MVP bem básico do que viria a ser o Warren hoje.

Página de objetivo do oiwarren.com / Imagem: Warren

Nessa época, quando já estava trabalhando na agência, esbarrei com um velho amigo e ex-funcionário da corretora, que me mostrou um projeto que estava pensando em executar e que era muito complementar ao meu projeto final da pós-graduação. Então, junto com o seu irmão, o André, que é desenvolvedor, começamos a dar vida ao primeiro MVP real do Warren. Era o combo perfeito para o produto que queríamos criar: alguém com background financeiro, outro em design e outro em desenvolvimento. Estes são os três pilares que guiam o Warren desde sua concepção.

Assim que o MVP do Warren ficou minimamente pronto, participamos de uma feira de empreendedorismo em Las Vegas junto com outras 500 startups, e o Warren foi selecionado como uma das 10 mais promissoras do evento. Isso nos deu estímulo para seguir em frente com o projeto.

Ao mesmo tempo, uma nova regulamentação que favorecia o modelo de negócio que estávamos buscando, entrava em vigor no país. Todos decidimos voltar de vez para Brasil (pois morávamos no exterior), mais precisamente em Porto Alegre, nossa atual casa. E dessa forma, a ideia de ter a própria empresa e trabalhar no nosso próprio projeto se tornava realidade.

Imagem: Warren

Qual o objetivo em longo prazo do Warren?

O Warren nasceu para mudar o mercado financeiro e a forma das pessoas lidarem com seu dinheiro e investimentos. Nós queremos criar uma nova geração de investidores, e trazer o mundo dos investimentos mais próximos das pessoas. Para isso ser possível, o Warren não poderia ser mais uma empresa de investimento. Ele tinha que ser alguém.

Alguém que quer saber dos seus objetivos e te ajuda a alcançá-los. Alguém que entende e fala a sua língua. Que facilita você a tirar o melhor proveito do seu dinheiro para aquilo que é mais importante para você. Alguém que tornasse todo esse processo numa experiência incrivelmente fácil e divertida.

Lembro a primeira vez que transferi meu dinheiro para um objetivo que eu mesmo criei no site. Foi inacreditável! Um momento único e muito marcante para mim, que jamais esquecerei. Sonho todos os dias em conseguir passar essa mesma sensação para as pessoas que usam o Warren.

Detalhe do app do Warren: facilidade para visualizar o rendimento e progresso do investimento. Imagem: Warren

Qual o perfil de alguém que se encaixa na cultura da Warren? E se for designer?

Para se encaixar no Warren, seja designer ou não, basta ser alguém com fome de aprendizado, que seja humilde e que não tenha medo de usar sua voz. Não há espaço para estrelas. Todo mundo que tem algo para falar, deve se sentir à vontade de fazê-lo.

Há diferentes níveis de profissionais trabalhando juntos, indo de Juniors a Seniors. Todo mundo tem algo a ensinar, mas também a aprender. Então não existe essa de “dono da verdade”. Nós gostamos de quem questiona as coisas, de quem quer fazer sempre melhor e de quem é inquieto e puxa seus limites.

O mais importante é todo mundo saber e sentir que tem a liberdade e a oportunidade de poder fazer a diferença a qualquer momento.

Vocês realizam com frequência um encontro chamado “Papo de Grana”. Qual a ideia principal desse encontro?

A ideia é ir cada vez mais fundo na nossa missão de trazer o mundo dos investimentos para mais perto das pessoas. Da mesma forma que o Warren faz online mas, nesse caso, offline também.

Sabemos quão difícil esse mundo é para a maioria das pessoas, quanto a relação delas com o dinheiro é, em grande parte, mais emocional do que racional. Muita gente tem dúvidas de como cuidar melhor das suas finanças, onde economizar e como investir, o que é super normal.

Então, criamos o Papo de Grana, um encontro onde apresentamos e discutimos em grupo formas de melhorar a relação dos participantes com seu dinheiro, abordando todas as dúvidas através de conversas francas, transparentes, descomplicadas e sem jargões, num clima de happy hour, bem leve e descontraído.

O Papo de Grana tem acontecido cerca de duas vezes por mês, sendo a maioria em Porto Alegre, nossa cidade natal. Já houve algumas edições em São Paulo e vamos levar esses encontros para mais capitais do país até o fim do ano também. Nós postamos o calendário de todas as edições na página do Warren no Facebook, assim fica fácil para todo mundo acompanhar.

Tito Gusmão, sócio-fundador do Warren, apresentando o “Papo de Grana”. Imagem: Warren

Quando o Warren foi lançado me lembro de vários amigos me mostrarem a novidade. A “interface que conversava” com o usuário foi algo novo, e naquele momento não se viam muitos projetos assim: interface limpa, simulação de um chatbot (um termo não tão popular no momento) e um serviço que até então era tradicional e burocrático. Como chegaram nessa ideia?

Aqui nós brincamos que éramos um chatbot antes dos chatbots virarem moda. Essa landing page foi um marco pra gente. Sem gastar nada em anúncios, conseguimos ter 30 mil pessoas na fila de espera só para experimentar o Warren. Isso em pouco mais de dois meses. Validou muito a importância do projeto, o que nos deixou com um sorriso de orelha a orelha.

A ideia do chatbot foi bastante simples se pensarmos de onde tudo partiu: o conceito de deixar o mundo de investimento mais próximo das pessoas e personalizado.

Não queríamos nomes pomposos, distantes da realidade, relações frias e gananciosas. Queríamos simplesmente que existisse alguém que fosse honesto, fácil de entender e fácil de lidar, como seu melhor amigo. Mas um amigo que entende tudo sobre dinheiro e investimentos e que você pode confiar e indicar para ajudar a sua própria mãe.

Com isso em mente, decidimos que deveria ter o nome de uma pessoa e falar como uma pessoa. Tiramos tudo que poderia confundir ou tornar o ato de investir em algo chato e complexo. Simplificamos a interface ao extremo, fizemos inúmeras entrevistas e testes para quebrar o conteúdo e os fluxos da melhor forma, e isso se provou muito eficiente.

Que tipos de testes vocês aplicaram? Alguma cena de teste que foi marcante para o projeto?

Tínhamos testes internos, com os membros do time; e os externos, com pessoas que não conheciam o Warren. Nos internos, eu gerava diversas hipóteses e depois discutíamos sob nossos diferentes pontos de vista: o meu, de design de produto, do André, de TI e do Tito, de negócio. Nessa época, o Warren era formado apenas por nós três (hoje conta com o quarto sócio, Marcelo).

Esses pontos de vistas distintos, mas complementares, nos faziam discutir à exaustão o produto antes de levá-lo para um teste com outras pessoas, além de resolver com antecedência muitos outros problemas. Quando surgia um embate, deixávamos para ver o que os testes com outras pessoas diriam, para assim tomar uma decisão mais assertiva. Esse modelo foi bastante útil na concepção do produto.

Participantes do meetup “Papo de Grana”, realizado pelo Warren em Porto Alegre. Imagem: Warren

Já os testes “externos” foram feitos remotamente, fornecendo acesso beta ao Warren; e outros foram presenciais, em grupo ou individuais, num modelo de entrevista semi-estruturada.

O mais revelador para mim foi a alta quantidade de feedbacks em relação ao conteúdo e tom de voz, do que em relação à interface. Ficou muito nítida a importância de se falar sobre investimentos numa linguagem simples e fácil de entender.

Lançamos o Warren em Janeiro de 2017 e, mesmo tendo apenas 7 meses de vida, já estamos ajudando muitas pessoas por todo o país, mostrando a elas que não é necessário ter conhecimento prévio em finanças para poder investir bem.

Hoje você se sente satisfeito, criativamente falando?

Muito. Trabalhar em apenas um produto, te dá a oportunidade de desenhar uma experiência por completo. Eu, particularmente, entendo experiência como todo e qualquer contato da sua marca com alguém, seja ele feito diretamente por você ou não. Não é apenas um site ou um app. É o que as pessoas dizem umas para as outras na hora de indicar o Warren, por exemplo.

É o texto e a imagem do anúncio que aparece no Facebook, é a forma que assinamos o e-mail ou que conversamos no suporte. Absolutamente tudo. Se alguém fala mal de um produto que você nunca usou, sua experiência com esse produto já é negativa antes mesmo de você usá-lo. Você precisa usar e abusar de toda a criatividade possível para os diferentes desafios que surgem, em diferentes etapas do ciclo de vida de um produto. Então a cabeça está sempre borbulhando de ideias e possibilidades.

No longo prazo, o desafio de conseguir manter uma boa experiência nos pontos em que você pode influenciar é enorme – e eu curto muito.

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