Standards Manual

Conheça Hamish Smyth, um dos fundadores da editora independente Standards Manual, baseada em Nova York. (2016)

Introdução.

Quem trabalha com gestão de marcas está acostumado a lidar com diversos manuais de marca e aplicação de identidade visual, assim como criá-los. Um manual de marca possibilita que outros profissionais, mesmo possuindo conhecimento raso na disciplina de Design, saibam colocar em prática as regras visuais que fariam uma determinada marca ser a mesma em qualquer situação.

Criar manuais completos nos nossos dias é bem mais prático, mas não necessariamente fácil. Em certos aspectos, é preciso ter domínio de materiais, escalas e suportes – mesmo que se possa testar digitalmente, o melhor seria explorar com materiais físicos – apesar dos recursos financeiros que isso possa demandar. Agora imagina esse mesmo trabalho numa época que não existiam nada além de lápis, réguas, ferramentas old-school e um olho extremamente aguçado. Nada digitalizado e nada de copy-and-paste. A atenção deveria ser redobrada para trabalhar detalhes em milímetros.

Standards Manual é um projeto que visa resgatar o trabalho árduo de designers, que como mestres executaram no passado para grandes marcas históricas. Esses manuais antigos, construídos na base do olhômetro, na maioria das vezes tinham apenas uma cópia original – feitos a mão – assim como o clássico manual do Itaú por Wollner.

Hamish Smyith e Jesse Reed, são donos desse empreendimento fantástico, e fazem um enorme favor a nossa profissão ao trazer para os nossos dias, materiais ricos em técnicas e perícia em Design. Jovens designers, como eu, tem mais é que agradecer por isso – e estudar.

Breve apresentação.

Meu nome é Hamish Smyith, sou co-fundador do Standards Manual, uma editora independente focada em preservar a história do Design gráfico, co-fundada com Jesse Reed. Antes de estar completamente dedicado ao Standards Manual, fui Associate Partner na Pentagram New York, trabalhando para Michael Bierut entre 2010–2016. Nasci na Austrália.

Hamish Smyth

Como você acabou indo trabalhar numa das empresas de Design mais influentes do nosso tempo? Como sua história começou lá?

Eu comecei a trabalhar na Pentagram em 2010 depois de ganhar uma competição de portfólio para graduandos de Design, uma competição em todo o país que aconteceu na Austrália. O prêmio era um estágio de duas semanas na Pentagram New York, na equipe de Michael Bierut. Sempre sonhei em trabalhar em NYC, então esse foi um sonho realizado pra mim.

A competição organizou o estágio primeiro na equipe de Katie Barcelona, depois na equipe de Michael Bierut. Katie disse que eu poderia me candidatar a uma vaga de estágio normal depois que aquelas duas semanas terminassem, então eu acabei trabalhando como estagiário por 3 meses, logo que um designer full-time deixou a empresa. Eu estava no lugar certo e na hora certa quando me ofereceram uma vaga full-time.

Os 6 anos depois disso foram os mais difíceis, porém os mais recompensadores da minha vida até hoje. Michael é um verdadeiro cavalheiro, um designer extradiordinário e a pessoa mais inteligente que eu já conheci. Trabalhando próximo dele foi uma verdadeira aula não só em Design, mas também em como conduzir um negócio e lidar com as pessoas. Fico muito feliz por ter aprendido com o melhor.

“I took this photo in 2010 when I was an intern at Pentagram. I was asked to go to Massimo Vignelli’s office and have a poster signed. Expecting to get the poster signed and be shooed away, Massimo spoke to me for an hour about life and design. It was inspirational. RIP.”

Qual a coisa mais importante que se deve ter em mente quando se trabalha com marcas globais?

O Design é a parte mais fácil, e às vezes a parte mais rápida. O que requer habilidade de verdade e muito tempo, na maioria das vezes, é quando você tem que percorrer pela hierarquia corporativa, pelas pessoas e a política daquela organização.

Eu admiro de verdade um designer que consegue ter tudo aprovado numa grande corporação. Mesmo que não seja a ideia mais avançada ou o trabalho mais criativo, só por ter a habilidade de poder guiar uma ideia através do campo minado corporativo, deveria ser contado como vitória.

Às vezes pode ser bem frustrante ter que lidar com clientes corporativos que são difíceis, mas o que muitos designers não entendem é que o processo de Design é completamente diferente do processo de trabalho normal que eles tem. Não existe resposta “certa” em Design. Com muita coisa em jogo, e com as pessoas tomando cuidado para salvar suas próprias peles, isso pode deixar as decisões mais lentas e até inviabilizar um projeto.

Hamish Smyth e Jesse Reed na Pentagram / Foto: Clément Pascal

Porque é tão importante preservar a história do Design gráfico no nosso tempo?

Eu acredito que preservar qualquer tipo de Design é importante. Ainda acho que a nossa profissão não é a melhor em preservar sua história como um todo. Ao invés de preservar tudo, temos apenas pequenas coleções, ou colecionadores particulares estão mantendo esses registros. Isso ainda é ótimo, claro, mas acredito que deveria existir um esforço maior, mais concentrado, como uma indústria mesmo, para preservar o passado.

Eu acho que todo bom designer sabe um pouco da história da nossa profissão. Até porque para projetar algo novo você precisa saber o que veio antes.

NYCTA Graphics Standards Manual

Você acha que nos dias de hoje, o Modernismo como forma de pensar e fazer Design gráfico está perdendo força? Não me refiro a estilo.

Uma das maiores críticas ao Modernismo em Design foi a percepção de “frieza” por pessoas que consideravam a questão da redução como não deixar nada para trás. Eu discordo, mas é apenas minha opinião.

Eu acho que o Design perdeu o caminho nos anos 90 e nos anos 2000, e só agora está começando a ganhar outra vez as virtudes do Modernismo – estou falando de um modo geral, pois é claro que houveram excelentes trabalhos modernistas durante todo esse tempo. Acredito que o surgimento do computador também teve muito a ver com essa perda de força. E como profissão, acho que só agora é que estamos sabendo “usar” o computador, podendo voltar a criar projetos que resolvam o problema que temos em mãos, ao invés de apenas aplicar estilos.

Mesmo assim, o Design modernista continua sendo difamado como algo “muito simples” ou algo que “meu filho de 3 anos poderia fazer”. O recente re-branding da Verizon (que ocorreu em setembro de 2015) pela Pentagram é um bom exemplo disso. Os comentaristas de plantão logo bateram na questão do uso da Helvetica sem nunca terem visto o sistema completo em jogo. Quase um ano depois, tanto o logo como o novo sistema de Design elevou a Verizon de uma operadora esquisitona e fragmentada para uma varejistas de celular sofisticada e cool.

NYCTA Graphics Standards Manual

O que você acha que os governos de outras cidades podem aprender com o tipo de conteúdo que o manual do NYCTA mostra?

O que o manual NYCTA fez foi pegar uma completa bagunça e organizar tudo dentro de um sistema simples, neutro e fácil de usar. Muitas cidades e organizações poderiam pegar um pouco dessa ideia. Diariamente eu me sinto ofendido pelo Design ruim – que está em todo lugar. De forma recíproca, eu fico muito feliz quando sei que alguém parou pra pensar em algo e cria uma boa experiencia para o usuário. E não digo apenas no Design gráfico, pois pode ser de um layout de ingressos de cinema a um layout de um prédio. Tudo conta.

(1) Detalhe de capa do NYCTA Graphics Standards Manual. (2) “We spot check each page with a loupe for things like registration, density, and marks. This loupe has a handy micron measure printed on the glass. #NASAitaly”

Vocês tem planos para reimprimir outros manuais como esse?

Sim! Temos vários outros projetos sendo planejados. O próximo projeto vai ser lançado em Outubro, e vai estar disponível no site. Os dois primeiros projetos foram baseados em transportes, mas agora estamos pensando em expandir para outras áreas do Design e além.

Que conselho você daria para um designer que está começando?

Aprenda a história da Arte e do Design. Leia muito. Aprenda a escrever. Aprenda como escutar as pessoas, de verdade. Faça um trabalho que não siga estilos ou tendências, mas que seja uma solução lógica para as necessidades do cliente.

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