José Gasparian é fotógrafo e designer de produto na Elephant, uma agência de produtos digitais com sede em San Francisco. Gasparian acredita que design e música tem relação até nos pequenos detalhes e elaborou uma playlist com 15 músicas que representam sua visão sobre o tema.
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José Gasparian
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Eu não sou nenhum crítico musical e muito menos especialista em teoria da música. Tudo isso aqui é a visão de um designer sobre a música que me acompanha há 11 anos. Assim como muitos, comecei com a música inglesa lá pelos meus 14 anos (Radiohead, Coldplay, U2, Snow Patrol, Keane...). Mas foi em 2010 que eu comecei a pesquisar diferentes estilos e abrir meus horizontes para novos sons. Hip-Hop, Rap, Eletrônica, Post-Dubstep, Experimental, Jazz, Soul, R&B, Indie Rock, Pop. Foi dessa mistura de gêneros que eu fui moldando tanto meu gosto musical quanto meu gosto estético.
Para mim, música e design sempre andaram lado a lado. Podemos partir desse princípio: os dois começam de um lugar vazio. De um lado uma tela em branco e do outro o silêncio. A ideia e a ação (ou trabalho) vem para preencher e tornar tudo mais concreto. E mesmo que todos os espaços vazios aparentem precisar serem preenchidos, esses são importantes ou até necessários para compreensão do todo.
Em meu processo de criação sempre busco trazer pausas e espaçamentos naquilo que estou construindo. Esses respiros permitem que as pessoas consigam melhor assimilar a hierarquia de uma página, por exemplo. Já na música, entendo que o silêncio serve para mudar de um trecho para outro ou apenas introduzir novas ideias dentro de uma música. Inclusive, meu projeto final da faculdade foi sobre o silêncio. Eu poderia ficar horas aqui falando sobre isso. [risos]
Exploração visual e de movimento para Eufonia #1 por José Gasparian.
Acredito que tanto os elementos em design como os elementos na música tem completa relação. Ritmo, harmonia, espaços, repetição, colagem e hierarquia podem ser alguns dos elementos em que esses dois universos se cruzam. Acho até que os termos podem ser utilizados em ambos. O ritmo entre diferentes elementos que ajudam numa melhor leitura; a hamornia das tipografias; o silêncio dos espaços em branco que são necessários para compreensão de hierarquias visuais. A repetição é um atributo muito comum tanto no design como na música, principalmente a eletrônica. Colagens em design é o mesmo que o resgate de sample em música, pois introduz e recria ideias passadas, dando um novo significado àquele pedaço de material. O ciclo sempre se fecha e ambos estão interligados.
Um ponto que eu também queria destacar aqui, pois me marca muito, são as capas de álbuns. Quem nunca escutou um disco pela capa? Para mim, não apenas as músicas e álbuns marcam momentos em minha vida, mas as capas que estão associadas à essas obras. Não é a toa que eu organizo minha biblioteca musical por capas. De alguma maneira, as capas representam o tom do disco, sendo interessante observar a necessidade de uma peça visual estar associada à uma peça fonética. E quando falo “tom”, podemos trazer isso como sendo a cor do disco. A cor não como elemento de distração, mas como elemento que tem propósito funcional para o álbum. O projeto Album Colors surgiu de um questionamento desses, lá em 2015, quando notei que a minha biblioteca tinha muitas capas pretas e brancas. Seria esse a tonalidade daquele ano?
Essas 15 músicas são uma representação da minha trajetória desde 2010 – ano em que iniciei minha graduação em Design e mesmo ano em que comecei a pesquisar música todos os dias – até hoje. Apesar de escutar muitos estilos e gêneros diferentes, trouxe aqui 15 músicas do gênero Eletrônico, pois é o que mais me representa em termos de experimentação, exploração, inquietudes e constantes inovações, que são elementos sempre presentes em meu processo criativo. A maioria das músicas são progressivas, para trazer esse sentimento de início de ideia, criação, exploração e depois fechamento, como uma curva que cresce, depois afunila e se encerra.