Referências: Gabriela Namie

Gabriela Namie é designer e art director no Youtube Music em New York. Nesse artigo ela comenta sobre como sua aproximação e descoberta sobre Design aconteceu em paralelo com sua mãe, revela suas três principais referências que marcaram sua trajetória profissional e deixa uma provocação para nossa indústria.


Publicado em

Imagem contendo fotografia de Gabriela Namie.

Descobri o Design em paralelo com a minha mãe, que era professora de português e hoje é designer de mobiliário. Sempre gostei de atividades artísticas quando criança e queria ter uma profissão ligada à criatividade. Descobrimos a existência do Design e me apaixonei pela área gráfica.

Mas além do Design como prática em si, outros interesses me influenciaram. Quando adolescente, comecei a ouvir punk rock e, com isso, descobri bandas e ideias por trás das músicas. A música, no geral, sempre esteve na vanguarda da conscientização sobre questões sociais e em sintonia com os eventos atuais. Muitos gêneros nascem de insatisfações políticas ou como voz de uma bandeira. Na música, descobri influências de Design através de capas de disco, assim como também percebi que as manifestações visuais não acontecem por acaso: elas refletem um modo de pensar e fazer – e essa percepção é essencial pra minha prática hoje.

Mais tarde, comecei a pedalar por São Paulo. O que era apenas um hobby me envolveu com mobilidade urbana de forma inesperada e me ofereceu uma percepção da cidade como nunca tive, mesmo tendo nascido e crescido lá. Descobri a arquitetura de São Paulo – ícones modernistas brasileiros – e também fazia flyers pra grupos de bicicleta. Porém, além da parte visual, o que mais me impressionou foi a construção de ciclovias. Nessa época elas não existiam, e eu pude ver a pressão civil por parte de grupos que eu participava avançar diálogos com Haddad para a construção dos primeiros 500 km. Ver uma mudança tão grande acontecer perto de mim me mostrou que minhas ações têm impacto – como pessoa e como designer.

Da descoberta do design com a minha mãe, ao punk rock e à bicicleta, o Design sempre esteve lá. E o que eu aprendi nesses três momentos é que o que mais importa no Design não é o Design.

Para minha mãe, o Design foi um símbolo de independência a longo prazo e a descoberta de si mesma. E, de certa forma, pra mim também. Através da música, descobri ideias e moldei minhas percepções políticas. Através da bicicleta, percebi que nossas escolhas pessoais têm impacto e que é possível gerar mudança. E, às vezes, com Design.

01

Krishnanda, Pedro Santos

Krishnanda é a melhor capa de disco já feita e o designer é Pedro Santos ele mesmo. Essa capa é tão inovadora e genuína, assim como a música. Pedro Santos fez tudo: um instrumento chamado tamba, as composições, a arte da capa. Tudo é autêntico e reflete a jornada espiritual dele. Eu sinto que toda vez que tentamos fazer algo parecido com alguém, fazemos uma versão piorada do trabalho dessa pessoa. O que torna este trabalho especial é sua autenticidade.

Imagem da capa do álbum Krishnanda

02

Lina Bo Bardi

Lina Bo Bardi é parte essencial da paisagem em São Paulo. Via o MASP ou o SESC Pompéia quando criança e depois descobri que eram parte do trabalho de Lina Bo Bardi. Criar algo do zero é mais fácil do que ressignificar. E além de tudo, ela ressignificou espaços de forma bela.

Imagem de Lina Bo Bardi

03

Herb Lubalin

Assim que me formei, comecei a me interessar muito por design de tipos. No curso intensivo de fontes da Cooper Union, descobri o trabalho de Herb Lubalin. A capacidade expressiva do trabalho dele me impressionou. Com formas tão simples, ele é capaz de dizer muito.

Imagem de Herb Lubalin

Minha provocação vem direto do meu bloco de notas...

Pelo que você troca sua força de trabalho?

“O que é exigido em nossa área, mais do que qualquer coisa, é a contínua transgressão. Profissionalismo não permite isso porque a transgressão precisa englobar a possibilidade de falha e, se você é profissional, seu instinto não é falhar, mas repetidamente buscar sucesso. Então profissionalismo como um objetivo de vida é um objetivo limitado”, Milton Glaser.

Se designers tivessem códigos de conduta, o que teríamos lá?

Texto escrito por Gabriela Namie exclusivamente para série Referências, curado por Fabi Nakasone, Isa Marques e Creative Doc. Todas as imagens nesse artigo são de fontes públicas na internet e podem ser encontradas nos links contidos nesse artigo.

Continue lendo