Referências: Júlia Bueno

Júlia é líder de Design na FARM Rio. Foi Coordenadora de Criação na Globosat, onde permaneceu por 7 anos. Além disso, acaba de lançar sua marca de objetos de design, Buena. Com muita bagagem e muita história Júlia compartilha suas três referências e deixa uma provocação para o mercado.


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Aos 5 anos meu presente favorito era o Almanacão da Mônica. Não por causa das histórias, mas porque amava as páginas de colorir. Aos 12, veio a fase “hipponga” de fazer meus próprios filtros dos sonhos. Quando viajava para Búzios nas férias com as amigas, parava nas barracas de artesanato e oferecia dinheiro aos artesãos em troca de um tutorial de macramê. Funcionava. Acabei o verão usando (e vendendo) as minhas próprias pulseirinhas. Observando os meus interesses pessoais, a escolha pelo curso de Design foi muito natural.

Cursei a faculdade em NY, na SVA (School of Visual Arts) e lá tive um intensivo não só de Design mas da forma americana de viver a vida: muito trabalho e poucas férias. Me formei e pouco tempo depois fui contratada em estúdio de animação chamado Superfad. Um ano depois, decidi que era hora de mudar o rumo e voltar ao Brasil, pois queria menos trabalho e mais férias. De volta ao Rio, trabalhei na Hardcuore, escritório que desenvolveu o branding da dobem e onde aprendi mais sobre stop motion. Um tempo depois, fui para uma vaga de Direção de Arte na Globosat, onde fiquei por 7 anos.

A Globosat foi a minha segunda faculdade. Foi onde pude experimentar muitos formatos e me orgulho especialmente das vinhetas desenvolvidas para o GNT, que utilizam a direção de arte para contar uma história, formando a logo do canal através de objetos que se relacionam com o conteúdo da marca. Cheguei como designer e me tornei Coordenadora de Criação, liderando uma equipe de designers, redatores, locutores e videomakers responsáveis por toda a comunicação dos canais Multishow, OFF e Bis.

Nos últimos anos também aprendi muito fazendo projetos como freelancer. Sempre amei o mundo da gastronomia e os projetos com chefs me ajudaram a desenvolver outras habilidades, como o foodstyling – que aprendi enquanto fazia a direção de arte dos livros da Bela Gil.

Hoje trabalho como líder de design na FARM. Ainda continuo fazendo projetos como freelancer em paralelo, assim como também lancei oficialmente a Buena, minha marca de objetos de design, onde vendo o monograma e planejo lançar outros produtos em breve. Nesse ano, como freelancer, fiz a direção de arte de 7 vídeos para a Natura, a Identidade visual do novo restaurante da Bela Gil que abriu em São Paulo e uma série de embalagens ilustradas para Mawi Brotos, uma marca de brotos apaixonante.

01

Milton Glaser

Eu sei, eu sei, Milton Glaser, duh. Ele é o mais óbvio designer referência na lista dos designers mas ele tem uma importância gigantesca para mim. O trabalho dele é muito baseado em ilustração e é raríssimo que uma mesma pessoa tenha um approach tão racional e tão artístico simultaneamente. Ele usava as suas ilustrações para resolver problemas de design. Vendo as soluções que ele criava, a minha interpretação é como se o papel da agência, do designer e do ilustrador estivessem todos condensados em uma só pessoa.

Quando entrei na faculdade  (PUC RJ em 2005) eu passava meu tempo livre pesquisando livros de design da biblioteca, lá descobri um com ilustrações que eu gostava e vi o nome do autor: Milton Glaser. Não sabia quem era, nunca tinha ouvido falar, mas os designs dele me fascinaram. Dentro desse livro tinha também vários posters feitos para uma faculdade em NY, chamada School of Visual Arts. Por causa dos posters dele, fui procurar saber sobre a escola e 6 meses depois me mudei para NY para estudar Design naquela mesma escola que conheci através do Milton. Anos mais tarde, no dia da minha formatura, ele estava presente - como um dos chairman's do meu curso - e quando recebi o diploma vi que tinha a assinatura dele. Foi o fechamento de um ciclo de uma forma muito especial.

Fotografia de Axel Dupeux / Redux.

Retrato de Milton Glaser, em preto e branco, olhando para a câmera.

02

Louise Fili

Lembro a primeira vez que ouvi falar sobre a Louise na faculdade, foi amor à primeira vista. Liguei para o estúdio dela e perguntei se tinham vaga para estágio, não tinham, mas resolvi insistir e enviar um e-mail e ela acabou criando a vaga. A Louise me mostrou que é possível misturar dois mundos: o da gastronomia e o do design. Ela tem um estúdio de design em NY focado em clientes de gastronomia: de restaurantes a embalagens. Fez algumas das embalagens mais simbólicas dos mercados americanos (atenção especial para os biscoitos da Late July, ou os cookies da Tate). Sua família é de origem italiana e ela traz uma nostalgia europeia no seu Design que vai direto no meu coração.

Fotografia de Louise Fili, em preto e branco, sentada, tomando café.

03

Anna Bond

Esse nome pode parecer estranho pra você, mas eu tenho certeza que você conhece o trabalho da Anna Bond. Anna é a ilustradora que, há anos atrás, fundou a Rifle Paper, marca de papelaria derivada dos seus desenhos.

Nos últimos anos os produtos da Rifle (e as ilustrações da Anna) percorreram o mundo todo e todos nós fomos influenciados por isso. Se você for em uma papelaria na sua esquina e ver uma estampa floral na capa de um caderno ou agenda, 90% de chances dessa estampa ter alguma inspiração na Rifle Paper. 

Ela me inspira pelo seu trabalho feminino e pelo seu empreendedorismo, ela foi contra o esperado de uma "ilustradora" que aprende que o seu negócio é desenhar enquanto outros vendem seus desenhos. Ela mesma criou seus produtos e distribuiu eles, aumentando seus lucros e fundando um negócio de muito sucesso. 

Fotografia de Anna Bond, sentada numa cadeira, vestida de vermelho. Ao fundo, uma paisagem pintada.

Minha provocação é...

Há 10 anos atrás o desafio do designer era o de fazer coisas bonitas e bem acabadas. O lettering não era tão popular, as fontes disponíveis eram limitadas – ou caras; o Pinterest (e o Instagram) não bombavam tanto e as nossas referências eram escassas. Hoje em dia fazer bonito e bem acabado ficou fácil. Basta olhar seu feed ou dar uma passadinha no Behance: tudo é bonito, tudo é bem acabado. Isso me gera questionamentos sobre entender o que nós, designers, estamos buscando nessa nova era do Design. 

Sinto que todos nós (designers) precisamos nos preparar para uma era do Design como commodity, onde muitas ferramentas que estudamos estarão disponíveis de forma mais acessível e intuitiva para pessoas não-designers. Todo dia precisamos buscar novas formas de adicionar valor ao que entregamos, e isso já vem acontecendo: até pouco tempo atrás poucos escritórios de design tinham redatores fixos, ofereciam Brand Positioning ou workshops de Design Thinking.

Ser designer nos dias de hoje é ser membro de uma profissão que está se reinventando o tempo todo.

Texto escrito por Júlia Bueno exclusivamente para série Referências, curado por Fabi Nakasone e Isa Marques. Revisado e editado por Creative Doc. Todas as imagens nesse artigo são de fontes públicas na internet e podem ser encontradas nos links contidos nesse artigo.

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