Referências: Julia Custódio

Julia trabalha com design gráfico na Tátil Design, no Rio de Janeiro (RJ) e é envolvida pelo universo da criação desde sua infância. É formada em Comunicação Visual na Escola de Belas Artes da UFRJ, tendo sua trajetória acadêmica e profissional passando por Produção de Moda, além de Design. Julia compartilha as referências que marcaram sua trajetória profissional e deixa uma provocação para o mercado.


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Desde muito nova entendi que minha primeira opção de trabalho era o Design. Aprendi a usar o Photoshop (pirateado, que minha mãe comprou no camelô) ainda criança, com uns 11 anos de idade. Ficava fazendo artes de artistas que eu gostava de ouvir e publicava nos blogs que eu mantinha. Assim, fui de orelhada me encontrando nesse universo e quando percebi, Design era minha única motivação profissional. Mais tarde, no Ensino Médio, fui para o NAVE: uma escola pública aqui no Rio que oferece ensino técnico nas áreas de Programação, Roteiro e Multimídia. Pude, então, ter contato formal com o Design, aprender os princípios e a História, ainda na adolescência. Quando cheguei na faculdade, na Escola de Belas Artes da UFRJ, os primeiros dois semestres já tinha visto ainda no colégio. No meio do caminho estudei Produção de Moda e fiz alguns trabalhos na área, mas Design sempre foi minha primeira paixão. 

Há dois anos trabalho na Tátil, empresa que me acolheu e me ensinou muito. Em 2019, participei de um dos projetos que mais gosto para a The Coca-Cola Company com a Camila Dias. Fomos convidados a criar a identidade da plataforma de sustentabilidade para toda a América Latina. Lançada no México, a campanha faz parte da estratégia global de sustentabilidade da Coca-Cola Company, que propõe reciclar todas as suas embalagens até 2030.

01

Emory Douglas

Por falta de referências negras na profissão, durante os primeiros períodos da faculdade acreditava que não existiam designers negros relevantes para a História. Um amigo, então, me apresentou ao Emory Douglas: minha primeira referência de designer negro. Douglas é um designer e artista americano, que trabalhou como Ministro da Cultura do Partido dos Panteras Negras. De 1967 a 1980, Douglas supervisionou a direção de arte e a produção de ‘The Black Panther’, o jornal oficial do partido. A arte de Douglas no jornal desempenhou um papel importante na propagação de suas críticas combativas ao governo dos Estados Unidos, bem como a quaisquer outras instituições ou pessoas perpetuadoras do racismo, da brutalidade policial e da pobreza.

Imagem com desenho de crianças negras segurando jornal.

02

Luanda Vieira

Ela é hoje editora de beleza e wellness na Vogue Brasil e, sendo mulher negra, foi um grande espelho para mim, que já sonhei em ser editora de Moda. Ver a trajetória da Luanda e os espaços que ela ocupa é um sopro de esperança de que podemos ter voz em um mercado tão embranquecido. Sinto que as conquistas dela são conquistas para nós também.

Imagem com fotografia de Luanda Vieira.

03

João da Motta

Ele é artista visual que retrata de maneira única e singular o cotidiano da periferia e do povo preto do Rio de Janeiro. Suas obras me emocionam e me conectam com as minhas raízes ancestrais.

Imagem com pintura de pescador negro segurando um grande peixe apenas da cor vermelha.

Minha provocação é...

Enquanto mulher negra, o racismo está presente na minha existência em todos os atravessamentos da minha vivência. Nos ambientes profissionais que passei, sempre tive experiências em que estava cercada por pessoas brancas. Aos poucos, pude entender que estar ali significava ter poder de mudar os processos, mas também exigia um enfrentamento diário de estar sozinha nessa luta. O peso de estar sempre sendo lembrada e tocada em dores tão profundas como o racismo e a cobrança de ser didática com as pessoas que o praticam, nos afasta e nos adoece cada dia mais nos espaços profissionais.

Como somos invisibilizados desde o início da carreira, hoje tento buscar referências e profissionais criativos negros para somarem nos projetos. Ações, como DNBR do Wagner, são fundamentais para nos (re)conhecermos e para as empresas finalmente nos alcançarem.

Texto escrito por Julia Custódio exclusivamente para série Referências, curado por Fabi Nakasone, Isa Marques e Creative Doc. Todas as imagens nesse artigo são de fontes públicas na internet e podem ser encontradas nos links contidos nesse artigo.

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